Considerações iniciais

Existe um certo preconceito entre os gamers contra jogos voltados para celulares e tablets, como se não fossem jogos para "gamers de verdade". De fato, são jogos voltados para um público muito mais casual que quer apenas passar o tempo um pouco, mas será que isso desmerece o jogo em si? Muitos jogos pequenos, são feitos de uma forma similar e lançados até mesmo em consoles. E se o mesmo jogo que saiu para iPhone (mesmo que tenha também uma versão para PC) for lançado para 3DS, a coisa muda de figura?

Vamos falar de um jogo nessas condições. Gunman Clive foi lançado ano passado, mas chegou na eShop do Nintendo 3DS no início desse ano. É importante de vez em quando analisarmos jogos desse tipo, em primeiro lugar, para repensar sobre o que eu disse no primeiro parágrafo, depois para repensarmos sobre a noção de valor daquilo que se compra. Sim, porque ao ver que o jogo custa meros R$2,99 muitas pessoas já imaginam que por ser barato ele não é bom... é um pensamento comum do consumidor e que existem inclusive teorias no campo da economia sobre isso, mas não vem ao caso para nós agora. O terceiro motivo é porque nem só de jogos grandes vive um console como o 3DS, então é interessante encorajar jogadores a procurar outras coisas além dos grandes lançamentos.



O jogo


Faroeste, meados do século XIX. Bandidos sequestraram a filha do prefeito Johnson e estão espalhando o caos por todo o lugar, então cabe ao herói Gunman Clive resgatar a donzela e salvar a terra dos bandidos. Só?! Sim, só. O jogo não possui uma história muito bem elaborada, e isso encaixa na proposta dele de ter se inspirado nos antigos jogos de plataforma da época, como por exemplo os da época do NES, e apela para o velho clássico "salve a donzela em perigo e destrua o mal desse lugar". É um clichê mais do que batido, mas que acaba sendo muito bem vindo por ter um bom motivo para estar ali. O único defeito na verdade é que mesmo jogos mais antigos já tinham algo a mais no background, geralmente explorados no manual que acompanhava o cartucho, mas Gunman Clive optou por ser o mais raso possível.

Essa inspiração é tão clara que, tirando obviamente a questão tecnológica de gráficos e som, é um jogo que poderia facilmente ter sido feito na época dos primeiros da franquia Megaman. O velho esquema de andar, pular e atirar em um jogo de ação de plataforma 2D side-scrolling, com direito a fase com carro de mina, presente desde plataformas clássicas como Donkey Kong Country até mais recentes como Harmoknight. Há também, claro, uma variação de inimigos e obstáculos presentes em cada fase, tirando as fases de boss em que há unicamente o boss.

Mas antes que comece a ficar eufórico imaginando que finalmente fizeram um jogo totalmente fiel à fórmula das jogos antigos, vá com calma. Pra começar, esse jogo foi feito de uma forma que tenha uma vida bem mais curta do que, por exemplo, o Sunset Riders do SNES em single player. Mesmo no nível difícil, você não terá tantas dificuldades assim pra zerar porque as fases não são tão grandes e numerosas e, mesmo que você esbarre em algum trecho, não é nada que simplesmente dormir e acordar no dia seguinte não resolva. Jogos antigos tinham uma necessidade de serem desafiadores, mas Gunman Clive simplesmente não tem isso, então mesmo que você tenha dificuldades, não será exatamente como nas plataformas antigas. Ainda assim, ele não chega a ser o tipo de jogo que você zera uma vez e depois não toca mais nele.

Apesar de ser no faroeste, o objetivo desse jogo não é ter fidelidade histórica, o que nos brinda com elementos bem divertidos. Isso se passa tanto no som do jogo, que por vezes nos remete (e muito bem) ao velho oeste estadosunidense enquanto por outras vezes tem até música que pode parecer deslocada da época em que o jogo se passa... isso seria um problema se não houvesse, por exemplo, fase em que você joga montado num foguete desviando de meteoros ou momentos em que você enfrenta um robô. Sim, o jogo tem pitadas de coisas "sem sentido" que na verdade o tornam até mais legal.

Mas o ponto mais forte do jogo pra alguns (e eu me incluo nisso) é o visual. A aparência de desenho feito à mão com as cores que tentam nos passar a mesma impressão é sensacional. O fundo do cenário até nos faz acreditar ser o papel sobre qual tudo é desenhado. A versão do 3DS é compatível com o efeito 3D, que não faz o nosso queixo cair, mas consegue sim deixar o jogo um pouco mais bonito. Visualmente falando, é talvez um dos jogos indies mais belos já lançados, mostrando que estar sempre atualizado com gráficos de última geração não é um pré-requisito para conseguir fazer um grande trabalho nessa área.

Na versão do 3DS, é possível também jogar com a filha do prefeito e com um pato (desbloqueia após zerar). É claro que a jogabilidade se torna... diferente. Fiz questão de zerar o jogo novamente com o pato, e foi divertido tentar jogar sem poder matar os inimigos, apenas desviando de tudo e voando (mas com limitações). Nesse caso, não há acesso às fases de boss, já que se trata de um novo mene: o pato que é personagem de um jogo de faroeste mas que não consegue atirar nos inimigos (por ser um pato).*

Veredito

Se eu não te convenci a comprar o jogo, volto a lhe lembrar do preço na eShop: R$2,99. A relação de custo-benefício é mais do que muito boa. Aliás, se custo-benefício fosse critério pra dar nota, eu daria acima de 10. Aconselho fortemente que você jogue e repense sobre aquelas questões que coloquei no início, e não sei o que mais poderia dizer para te convencer, já que só de escrever está me dando vontade de jogar novamente.

Visual - 10/10
Jogabilidade - 8/10
Som - 7/10
História - 6/10
Carisma- 7/10
Nota Final - 7,6/10

*Lembranças ao Site dos Menes
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